O Projeto de Lei nº 2.338, de autoria do senador Rodrigo Pacheco, estabelece as regras para o uso da Inteligência Artificial-IA no Brasil. Recentemente, inclusive, em mais uma discussão sobre o assunto, a representante da Secretaria de Políticas Digitais da Presidência da República, Marina Pita, afirmou, em uma audiência pública sobre o tema, que a matéria, atualmente em análise no Senado Federal, está madura e equilibrada.
“Entendemos que o texto atingiu um grau de maturidade, conseguindo equilibrar as posições dos diversos órgãos do governo. Mais de 19 ministérios estão envolvidos nessa discussão, e a versão atual é menos prescritiva do que as anteriores; acreditamos que esse é o equilíbrio necessário para alinhar inovação e proteção”, comentou.
Mas, e para a profissão contábil? Quais serão os possíveis impactos dessa regulamentação?
Fato é que a IA já se consolidou no ambiente corporativo e as micro, pequenas e médias empresas-MPMEs brasileiras estão na vanguarda dessa transformação, assim como a Contabilidade. Prova disso está em um estudo da Microsoft, o qual aponta que 74% das MPMEs no Brasil já utilizam IA em suas operações diárias.
Essas inovações da IA economizam tempo e liberam os profissionais da Contabilidade para se concentrarem em funções estratégicas que exigem análise crítica e tomada de decisão. Além disso, a implementação da IA facilita o acesso a dados em tempo real, permitindo que as empresas realizem uma gestão mais proativa e informada.
O empresário Josney Lara, diretor comercial da InfoWorker Tecnologia, enfatiza que a IA não é mais uma opção, e sim uma necessidade estratégica para assegurar a competitividade e a inovação. “A IA está mudando a forma como as empresas gerenciam seus negócios, oferecendo ganhos em eficiência, redução de custos e uma experiência melhorada para os clientes. As empresas que não abraçarem essa mudança ficarão em desvantagem”, afirma.
Segundo ele, as pequenas e médias empresas estão atentas a essa tendência e buscam incorporar a IA em sua rotina para maximizar os resultados. Portanto, óbvio que a Contabilidade deve seguir essa tendência.
Josney Lara explica que o uso da tecnologia tem avançado rapidamente, focando na automação de processos, como análise de dados e campanhas de Marketing. Além disso, pesquisas de mercado mostram que 65% dessas empresas consideram a IA uma ferramenta que proporciona uma vantagem competitiva significativa, conforme o relatório sobre o mercado de Vendas e Marketing (State of Sales and Marketing Report 2023/2024) da Pipedrive. “Hoje, ferramentas como machine learning e chatbots, que antes eram privilégio de grandes corporações, estão disponíveis para empresas menores, permitindo a personalização de serviços e a otimização de operações de maneira acessível”, diz o especialista.
Na própria InfoWorket, Josney relata que, nos últimos 12 meses, a demanda por esse tipo de solução cresceu de forma significativa. Segundo ele, cerca de 60% dos pedidos vieram de pequenas e médias empresas. “O mercado está muito atento a inovações e os empresários não querem perder competitividade, por isso estão redirecionando recursos para essas novas tecnologias”, comenta.
A regulamentação da IA traz uma série de implicações para a profissão contábil. Em primeiro lugar, a implementação de diretrizes claras pode melhorar a confiança dos clientes nas soluções de Contabilidade automatizadas, garantindo que os dados e informações sejam tratados de forma ética e segura. Isso pode levar a um aumento na adoção de tecnologias de IA por parte das firmas contábeis, que, por sua vez, pode resultar em maior eficiência operacional.
Benefícios para contadores
No caso da regulamentação da IA, a necessidade de conformidade com normativas regulatórias exigirá que os profissionais contábeis se capacitem em novas competências relacionadas à análise de dados e à gestão de sistemas de IA. Assim, é esperado que o papel do contador evolua ainda mais do enfoque tradicional de registro e análise para uma função mais estratégica, onde insights gerados pela IA são utilizados para a tomada de decisões e planejamento financeiro.
Outro ponto importante é que a regulamentação pode proteger a profissão de práticas desleais e do uso irresponsável da tecnologia. Com regras definidas, espera-se que haja um controle maior sobre a qualidade dos serviços prestados, bem como uma redução de erros e fraudes, fortalecendo a integridade do setor contábil.
Por outro lado, a regulamentação trará ainda mais desafios para a classe, como a necessidade de adaptações constantes às mudanças nas leis e normativas. Profissionais contábeis precisarão investir em formação contínua e em tecnologias que atendam aos novos requisitos. A resistência à mudança e a adaptação a novas ferramentas também podem ser bloqueios para alguns profissionais.
Por fim, a regulamentação da IA pode abrir espaço para a criação de novas oportunidades de mercado, como o desenvolvimento de serviços de consultoria especializados em compliance e governança de dados. Portanto, a interação entre a Contabilidade e a Inteligência Artificial será cada vez maior, e a forma como a profissão se adapta a essa nova realidade será fundamental para seu futuro.
Essa e outras matérias estão disponíveis no Mensário do Contabilista, edição de novembro, no link Mensario-do-Contabilista-11-2024.pdf