Com mais de 30 anos de atuação na área de gestão empresarial, o professor universitário da Universidade São Judas Tadeu, Marcello Cacavallo, fala, nessa entrevista exclusiva ao Mensário do Contabilista, sobre a nova proposta curricular do curso de Ciências Contábeis, aprovada recentemente, dando ênfase às soft skills e à importância do desenvolvimento de competências do contador.
Acompanhe as melhorias e desafios que virão pela frente:
Quais são as novidades que merecem destaque na Resolução CNS/CES nº 27 de março de 2024?
Com certeza, o papel das Instituições de Ensino Superior (IES) na formação dos futuros profissionais de Contabilidade. Destaco na nova Diretriz Curricular Nacional-DCN o capítulo II da Resolução, que trata do perfil e das competências exigidas aos futuros profissionais.
A DCN estabelece que os cursos de Ciências Contábeis possam assegurar aos alunos a compreensão de questões científicas, sociais, ambientais e políticas no contexto da Contabilidade, com a aplicação da tecnologia da informação e comunicação e através de uma visão sistêmica, holística e humanista. Além de toda formação técnica da profissão aplicada ao curso, a nova DCN destaca também a importância das soft skills (habilidades interpessoais) que deverão ser trabalhadas na formação do profissional que deverá ser “cooperativo, criativo, crítico, reflexivo, proativo, inovador e adaptável à mudança de cenários”.
Outro ponto a ser destacado está na organização do curso, que deixa o Trabalho de Conclusão de Curso-TCC opcional e institui o estágio supervisionado como obrigatório.
Quais são os desafios para instituições de ensino, docentes e alunos, nesse processo de adaptação?
Entendo que boa parte das instituições de ensino já vem se adaptando a esse processo devido a exigências do mercado de trabalho e da sociedade em geral. No mundo atual, com o avanço das tecnologias de informação, do surgimento e desenvolvimento da Inteligência Artificial-IA, faz-se necessário a formação de profissionais de Contabilidade com ênfase em tomadas de decisões.
Já há algum tempo as grades curriculares das IES, sejam por determinação da DCN, ou por opção através da inclusão de outras atividades, têm procurado desenvolver competências para os futuros profissionais. Um ponto relevante é o papel dos docentes nesse processo. Hoje não podemos mais adotar uma metodologia de ensino travada. Acrescento que os docentes, estudantes, ou qualquer profissional da Contabilidade, devem buscar a educação continuada – Life Learning. Então, mudanças nas DCNs dos cursos superiores devem ser vistas com naturalidade.
Essas mudanças podem contribuir com a sociedade? De que forma?
Sem dúvida alguma, uma vez que a nova DCN traz uma atualização das grades curriculares e das competências dos futuros profissionais que vai de encontro aos anseios da sociedade em geral, principalmente no que tange às questões éticas, sociais, ambientais e políticas, além das competências técnicas exigidas para a profissão.
A opcionalidade do TCC não trará perdas para os estudantes?
Entendo que não. Algumas instituições de ensino superior já substituíram o TCC por atividades de pesquisa semestrais dentro de cada disciplina curricular. Essas atividades, com todos os critérios de exigência para elaboração, somadas a atividades práticas e técnicas da profissão, trazem bons resultados já comprovados. Claro que está será uma decisão de cada IES de acordo com a grade curricular e que deve ser respeitada. Ademais, devem ser considerados diversos fatores como regionalidade e histórico do curso. Algumas IES não irão abrir mão do TCC, isso é fato.
O estágio supervisionado obrigatório servirá para preparar profissionais mais comprometidos com o mercado?
Sim, este é um ponto positivo. E entendo que irá ajudar os estudantes, que passam a ter contato com a profissão ainda durante o curso e não somente após formado, e também o mercado em geral que ganhará profissionais mais capacitados.
Diante dessa realidade, qual é a importância de as instituições de ensino manterem parceria com as Entidades Congraçadas da Contabilidade?
Fundamental. Destaco aqui o trabalho que já é feito pelo Sindcont-SP através do Encontro de Profissionais e Acadêmicos da Contabilidade-Epac nas IES de São Paulo e região. Já tive a oportunidade de organizar e receber esse evento algumas vezes nas universidades que lecionei e leciono. Evento este sempre com temáticas bem relevantes e atuais do mercado. Aqui os estudantes podem ter contato com renomados e experientes profissionais da Contabilidade que passam a ser exemplos a serem seguidos. Agradeço ao presidente, Claudinei Tonon, e a toda a diretoria do Sindcont-SP pela pronta disponibilidade em atender as IES nessa tão importante demanda.
Leia outras matérias do seu interesse na Revista Mensário do Contabilista de julho. É só acessar. https://www.sindcontsp.org.br/wp-content/uploads/2024/07/Mensario-do-Contabilista-07-2024.pdf