Em entrevista exclusiva à Revista Mensário do Contabilista, o secretário da Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, Itamar Borges, falou sobre a parceria firmada com o Sindicato dos Contabilistas de São Paulo – Sindcont-SP e da reunião que teve, no dia 21 de julho, com os representantes das Entidades Congraçadas da Contabilidade do Estado de São Paulo, onde foi apresentado o desenvolvimento de um programa específico de orientação educacional e acesso a crédito entre os segmentos contábil e do agronegócio, por meio do Desenvolve SP.
Confira:
Como seriam oferecidas essas opções de financiamento para transformar o projeto de crescimento das empresas?
No ano passado o Sescon-SP e a Agência de Desenvolvimento do Estado de São Paulo – DesenvolveSP, com o apoio da Frente Parlamentar do Empreendedorismo lançaram o Re-tech, ou projeto de Retomada Tecnológica, que reúne agentes de crédito e inovação para apoiar micro e pequenas empresas do segmento contábil na compra de hardware, aquisição de softwares e serviços digitais, com oferta de crédito para essas finalidades. Essa iniciativa está dando bons resultados e nos estimula a avançar. Assim, nessa reunião na Secretaria da Agricultura com dirigentes do CRCSP, Sindcont-SP e Sescon-SP sugerimos que mais escritórios de Contabilidade busquem apoio na DesenvolveSP. Nesta pandemia a Contabilidade mostrou que é essencial para a manutenção das empresas, e para o recolhimento de tributos, tão necessários para o governo custear os hospitais, vacinas, e programas de auxílio emergencial.
As medidas de distanciamento social obrigaram grande parte das empresas a se adequarem de forma repentina, e em muitos casos com poucos recursos, ao modelo home office. Para isso está sendo necessário a adaptação das empresas do setor de Contabilidade, que estão adquirindo equipamentos e tecnologias para continuarem suas atividades de forma remota. Para mais informações sobre o projeto Retech acesse: http://www-sescon-org-br-1.rds.land/re_tech.
Faço uma menção especial ao Sindicato dos Contabilistas de São Paulo, na pessoa do presidente Geraldo Carlos Lima, de sua diretoria e dos associados, que sempre participaram ativamente e apoiaram a Frente Parlamentar do Empreendedorismo da Assembleia Legislativa, que presidi nesses últimos 10 anos!
Sendo o senhor um dos grandes parceiros da classe contábil, quais iniciativas, em sua visão, precisam ser adotadas para o crescimento das empresas neste momento de pandemia?
Tivemos de ter muita resiliência neste período e para cumprir as medidas de higiene e distanciamento social, grande parte das empresas precisaram inovar para atendimento de forma remota. As empresas de serviço e comércio foram as que mais sofreram, mas por outro lado foram as que mais inovaram. Vejam o crescimento do comercio eletrônico. A pandemia de Covid-19 é o maior acelerador do comércio eletrônico e o início de uma nova era para o varejo. “Dados de uma pesquisa da McKinsey revelam que esse cenário global foi o responsável por gerar, em apenas 90 dias, no início da pandemia, mudanças no comércio eletrônico e no comportamento do consumidor que aconteceriam apenas em 10 anos.” Entendo que as empresas em geral e as empresas contábeis em particular precisam continuar inovando e capacitando seus profissionais. Os profissionais são a alma das empresas. Eles são estratégicos e precisam ser reconhecidos e valorizados.
De acordo com números do Governo, o agro é responsável por 15% dos empregos formais do Estado de São Paulo, com grande parte deles nos setores de serviços e agroindústria. Quais são suas metas, como secretário, para alavancar este segmento ainda mais?
Ao ser convidado pelo governador João Dória e pelo vice Rodrigo Garcia, para ser o secretário da Agricultura e Abastecimento reuni especialistas da Secretaria e de outras instituições e elaboramos um planejamento intitulado “Construindo Pontes – Um Plano para Modernização do Agro Paulista”. Pensamos e definimos políticas públicas para toda cadeia do Agro, envolvendo agricultura, pecuária, produção florestal, pesca, aquicultura, sistemas de integração lavoura-pecuária-floresta, agroenergia, agroecologia, agricultura urbana, fazendas verticais, agricultura orgânica, agroindústria, turismo rural. Com o uso de novas tecnologias e boas práticas, incluindo insumos, irrigação, máquinas agrícolas, fertilizantes, corretivos, defensivos, conservantes, transporte, rastreabilidade, armazenagem, distribuição ao consumidor final por meio do atacado e varejo, economia circular e redução de perdas e desperdícios.
Tomamos posse e estamos trabalhando muito pelo crescimento do setor. Eu sempre tive o diálogo, como palavra de ordem em minha atuação política, e assim sempre estou buscando o diálogo entre produtores, especialistas, técnicos, poder público estadual, poder público federal, prefeitos, vereadores, e lideranças do setor. Além de assumir o papel de mediação, nosso objetivo é integrar setor privado, entidades e meio acadêmico para superar desafios econômicos, sociais e ambientais criado também iniciativas para posicionar o agro paulista no cenário mundial.
O Agro sempre foi muito presente na minha vida e no meu trabalho. Como secretário de Agricultura, mantenho essa postura de conversar com o setor, com os dirigentes, técnicos e cientistas da Secretaria. Acredito que a pasta precisa ser uma legítima representante do Agro paulista e defender as demandas dos agricultores e produtores rurais. Essa proximidade com o setor tem contribuído para agilizar a implantação de novos programas, como o Rotas Rurais, o AgroSP+Seguro e a reativação do programa Melhor Caminho, muito elogiado pelos gestores municipais e os representantes do Agro.
No ano passado, o PIB do agronegócio do Estado de São Paulo avançou fortes 8,27%, segundo cálculos do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada – Cepea, da Esalq/USP. Trata-se da alta mais intensa desde 2010, quando o crescimento atingiu 12,17%. Com isso, em 2020, o agronegócio paulista representou 14% do PIB do estado, sendo esta a maior participação da série histórica, iniciada em 2008. Quais são as perspectivas para 2021?
O agro manteve o ritmo de produção durante a pandemia, fomentando a oferta de alimentos, energia e fibras para a população, com qualidade e sustentabilidade. As atividades que compõe a cadeia produtiva do agronegócio continuaram produzindo e distribuindo alimentos e outros insumos para toda a população. A agricultura foi mais demandada pelo aumento do consumo doméstico e busca internacional por alimentos.
As perspectivas para os próximos anos são muito promissoras. O Brasil tem condições privilegiadas para alimentar o mundo, pois tem terra, água, tecnologia própria, sistema de produção organizado e pesquisas. Esperamos que o setor mantenha níveis firmes de produção e exportação. Não é à toa que o agro em SP e consequentemente no Brasil é o carro-chefe da economia.
Uma de nossas prioridades na Secretaria é promover o uso e integração das tecnologias produzidas nos institutos de pesquisa, nas escolas técnicas e universidades estaduais com os produtores rurais. Já criamos um Projeto Temático com a FAPESP – Fundação de Amparo á Pesquisa e outras instituições.
Com essas iniciativas do Governo do Estado a perspectiva é que a produtividade agrícola continue a crescer, ano após ano.
Qual é o papel da Contabilidade para o desenvolvimento deste segmento?
Os profissionais contábeis realizam um trabalho indispensável para a saúde financeira das empresas, para o equilíbrio das contas públicas e todo o ambiente de negócios. Costumo dizer que não existe empreendedorismo sem a destacada atuação dos profissionais da contabilidade e no agronegócio não é diferente, a Contabilidade é a grande aliada para a melhoria da gestão.
No agro se diz que o Brasil tem muita competência da porteira para dentro, mas tem dificuldades da porteira para fora. Isso porque o produtor inovou na tecnologia de plantio, produção e colheita, atingindo altos índices de produtividade, mas enfrenta dificuldade no escoamento das mercadorias e na comercialização.
A Contabilidade rural cuida do patrimônio rural, resumido nos ativos (caixa, cabeças de gado, terra, tratores, fertilizantes, sementes, defensivos agrícolas etc.), passivos (empréstimos bancários, dívidas trabalhistas etc.) e patrimônio líquido (capital, reservas etc.).
No Brasil, do século passado, de economia predominantemente rural, a contabilidade rural, por meio dos “Guardas Livros” empreenderam uma brilhante marcha inovadora na profissão. Foram esses profissionais que fizeram a contabilidade das propriedades agrícolas, das agroindústrias e do comércio para a exportação de café e outros insumos. De lá para cá há uma permanente evolução na profissão e hoje os contadores tornaram-se consultores para assessorar o empresário na gestão tributária, nos investimentos e na melhoria da produtividade.
Temos muitos desafios em conjunto com os Contabilistas, e um deles é desburocratizar e promover a regularização fundiária e ambiental, em 100% das propriedades paulistas, para que a atividade rural tenha segurança jurídica.
Com o aumento da competitividade e uma economia cada vez mais complexa, a Contabilidade rural vem ganhando espaço como ferramenta de gestão no campo?
Como falamos anteriormente o mercado agrícola brasileiro vem acompanhando as tendências e mudanças do cenário mundial de competitividade e de ganhos a partir da produção em escala. Em nossas ações na Secretaria da Agricultura estamos implantando programas de capacitação para o mundo digital. Equipes da Secretaria da Agricultura, produtores e moradores rurais precisam ser capacitados para uso de internet, treinamentos a distancia, comercio eletrônico e busca de informações. Há bons exemplos de programas de extensão rural realizados na Índia e que serão implantados em nosso Estado.
Hoje existem softwares de gestão contábil que os agricultores podem adotar. São sistema amigáveis, de uso fácil e simples, para organizar os dados relevantes para o produtor rural. Há inclusive, sistemas específicos para pequenos produtores, com plataformas personalizadas para cada tipo de produção e com muitas funcionalidades.
É muito comum que, por serem pessoas simples, os produtores rurais guardem as informações do seu negócio somente na memória e não utilizem um sistema organizado de gerenciamento. Qual é a importância da Contabilidade para reverter este cenário?
O tempo em que o produtor rural guardava dinheiro no colchão, já acabou! Atualmente, as fazendas e sítios são verdadeiras empresas. E assim como as empresas, os produtores rurais inovaram na gestão. Com o avanço da tecnologia, os softwares de Contabilidade estão cada dia mais completos e, com a integração de diversos sistemas, eles passaram a fazer parte do dia a dia do produtor rural.
Hoje é possível acessar e acompanhar as informações do campo de qualquer lugar do planeta, agilizando diversos processos, tanto na produção como na administração, para isso a Secretaria da Agricultura está incentivando a conectividade rural para levar telefonia celular e internet aos pequenos produtores rurais, por meio de antenas e amplificadores de sinais.
A Contabilidade é o principal instrumento de apoio na gestão administrativa e financeira, nas compras, nos controles de estoques, na gestão de pessoas, nas vendas, na logística, enfim em todas as etapas, o produtor rural necessita da Contabilidade. Nosso desafio, juntamente com as entidades congraçadas é implantar a Contabilidade 4.0 no Campo!
Foto: visita do presidente da Casa do Saber Contábil, Geraldo Carlos Lima, ao secretário Itamar Borges, em julho deste ano