Custo dos financiamentos pode aumentar.
A crise da Americanas, que possui uma dívida de R$ 47,9 bilhões, conforme os administradores judiciais da recuperação judicial da companhia, não está restrita aos credores e funcionários da varejista. Os impactos devem ser sentidos no custo dos financiamentos ou mesmo no aumento das exigências na hora de conceder crédito no País, segundo especialistas ouvidos pelo DIÁRIO DO COMÉRCIO.
A conselheira do Conselho Regional de Economia – 10ª Região – Minas Gerais (Corecon-MG), Alzira Alice de Souza, ressalta que um dos componentes do nível de custo é a confiança na capacidade das empresas de cumprirem com os compromissos financeiros com base nos desempenhos apresentados. “Se elementos elevam o grau de risco, um dos reflexos tradicionais é o aumento dos juros praticados pelas instituições”, diz.
A economista observa que, como a negociação com os credores ainda está em andamento, não há precisão sobre seu impacto, mas as previsões são preocupantes. Ela acrescenta que o caso Americanas envolve problemas de transparência e confiança, já que os balanços não correspondiam à realidade financeira do negócio.
Para o sócio de auditoria da Russell Bedford Brasil, Eduardo Vieira, um calote da varejista teria um efeito catastrófico sobre os bancos brasileiros, pois gera um efeito maior na já criteriosa análise de riscos dessas instituições perante as companhias e, consequentemente, aumento de juros, redução de liquidez e carência de funding no mercado.
O analista da Terra Investimentos, Luis Novaes, observa que, nos últimos anos, os índices de inadimplência de grandes empresas estiveram em um patamar historicamente baixo e isso teve impacto positivo na percepção de risco dos bancos sobre esse segmento. “O caso da Americanas pode ser um caso isolado, mas trouxe um sentimento de dúvida ao setor financeiro se esses índices historicamente baixos, realmente, significam uma exposição ao risco baixa”, diz. Para ele, o aumento da percepção de exposição ao risco dos bancos deve ter um efeito negativo sobre o custo de crédito, a começar pelas grandes empresas e com possibilidade de se expandir para segmentos de pequenas e médias, além de pessoas físicas.
Na análise do sócio do Andrade e Silva Advogados e especialista em recuperação e falência, Rodrigo Macedo, ainda é cedo para dizer se o crédito para as varejistas ficará mais caro. “Entretanto, o impacto mínimo que se espera é voltado ao rigor na concessão desses créditos, considerando que as inconsistências contábeis verificadas no caso não foram levadas em conta”, observa.
Macedo não considera a situação catastrófica para os bancos credores da Americanas. “Catástrofe significaria, a meu ver, a quebra dos bancos e, considerando o histórico de lucro líquido de cada um desses bancos, frente ao valor que cada um emprestou à Americanas, mesmo que nada recebam, dificilmente eles quebrariam ou ficariam em situação de crise extrema”, diz.
Ele lembra que os principais bancos do País se posicionaram contra o pedido de recuperação judicial, uma vez que sabem que, neste tipo de demanda, terão mais dificuldade para receber os valores, já que a empresa fica, neste caso, blindada das execuções e penhoras de bens e valores.
Para o economista, consultor empresarial e associado do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), Carlos Caixeta, a situação da varejista é avaliada como um caso isolado, entendido dessa forma pelo mercado. Assim, ele diz acreditar que, de modo geral, a situação não deve significar aumento no valor dos juros dos financiamentos, no preço que as empresas pagam para ter dinheiro no Brasil.
Ele não aposta num calote da Americanas, já que a companhia está se mobilizando juridicamente para renegociar as dívidas. “Agora, um calote seria muito ruim, porque isso abalaria a estrutura de confiança dos credores nas empresas de modo geral”, observa.
Apesar de ruim, Caixeta não considera a situação como catastrófica para o mercado, já que o montante das dívidas da varejista não está concentrado em uma instituição financeira específica. “Se estivesse concentrado num banco ou num credor específico, aí seria catastrófico para aquele credor”, analisa.
Caixeta acrescenta que o caso da Americanas deve provocar um aumento generalizado das exigências dos credores com relação aos documentos apresentados pelas empresas para conseguir empréstimos. O especialista observa que, embora o valor da dívida da empresa seja considerável, não tem representatividade diante do total de recursos emprestados para as empresas no País para desestabilizar o mercado de maneira expressiva.
Para o coordenador do curso de administração do Ibmec BH, Eduardo Coutinho, a situação da companhia ainda não é avaliada como catastrófica, entretanto causa receio e pode ter impactos no mercado de crédito, com as instituições financeiras se tornando mais criteriosas.
Fonte: Diario do Comercio