No dia 22 de setembro, foi comemorado, em todo o Brasil, o Dia do Contador, em alusão, primeiro ao apóstolo São Mateus – padroeiro da profissão – que antes de se dedicar à religião exercia a atividade de cobrador de rendimentos públicos; e segundo porque até 1945 só existiam cursos técnicos e profissionalizantes na área contábil. A criação da primeira graduação em Ciências Contábeis foi um fato tão histórico, que sua regulamentação se deu através do Decreto-Lei nº 7.988, assinado pelo então presidente da República, Getúlio Vargas.
Para falar da função do profissional contábil, que vai muito além do que só cuidar de cálculos e resolver questões burocráticas, e o que esperar da profissão no pós-pandemia, a Revista Mensário do Contabilista entrevistou Zulmir Breda, presidente do órgão máximo da classe contábil do País – o Conselho Federal de Contabilidade – CFC.
Confira:
No dia 22 de setembro, a classe contábil comemorou o Dia do Contador. Como o senhor vê a evolução da classe nos últimos anos?
Pela a sua própria essência, a Contabilidade e a classe contábil estão em constante desenvolvimento. A profissão acompanha e se adapta às transformações constantes do mercado e da economia e, hoje, mais do que nunca, à evolução tecnológica. Nesse cenário, vemos uma mudança no perfil do contador que migra das atividades mais funcionais para a execução de trabalhos estratégicos, como o assessoramento. Dessa forma, o contador consolida-se como um consultor de negócios, que analisa diversos dados e cenários, traça planejamentos e direciona as empresas pelos caminhos mais adequados ao seu progresso e crescimento.
Quais são suas previsões para a classe contábil, agora com a reabertura da economia e a flexibilização das atividades em todo o Brasil?
A pandemia tornou ainda mais evidente a essencialidade do profissional da Contabilidade. Em um espaço de tempo muito curto, estudamos e aplicamos, de acordo com o perfil de cada cliente, uma grande quantidade normas emitidas pelo governo para conter os impactos econômicos da Covid-19. Vale destacar que, durante todo esse período, solucionamos não apenas as questões do momento, mas também preparamos as empresas para a reabertura das atividades e para o pós-pandemia. Assim, a partir flexibilização, estaremos colocando em prática os planejamentos estratégicos traçados anteriormente e manteremos a nossa consultoria para a nova realidade. Além disso, continuaremos juntos com os clientes, que, após toda essa experiência com a pandemia, querem os contadores ainda mais próximos no dia a dia e na tomada de decisões.
Outro ponto fundamental é a adaptação decisiva da classe ao mundo digital, um caminho sem volta, que deu passos largos durante a pandemia e o necessário isolamento social. Aqueles que ainda não estão efetivamente prontos devem fazer investimentos em novas tecnologias.
De que forma a tecnologia está mudando a Contabilidade? Essas mudanças são positivas?
A tecnologia impactou profundamente a Contabilidade, mudando, inclusive, o perfil do profissional. Com um grande volume de informações disponíveis em bancos de dados, tornou-se essencial o profissional dominar a inteligência de mercado e, assim, estar mais bem preparado para oferecer um serviço adequado e customizado aos seus clientes.
Sem dúvidas, a tecnologia traz benefícios para a Contabilidade. O grande volume de informações armazenadas permite a realização de análises mais precisas dos ambientes interno e externo, o desenvolvimento de planejamentos mais detalhados e, em consequência, um assessoramento mais assertivo.
A digitalização também proporciona agilidade e rapidez para a entrega das inúmeras obrigações acessórias, assim como para a realização das demais atribuições do profissional da Contabilidade. Vale destacar também que o avanço tecnológico também permitiu um novo meio de comunicação com os órgãos que compõem o fisco.
Os contadores do futuro serão muito diferentes dos contadores atuais? Por quê?
Eu digo que o futuro já chegou. E, nesse sentido, o profissional deve estar voltado para uma atuação mais estratégica e menos funcional. Estamos em transição e o contador, hoje, é, sem dúvida, um consultor de negócios, aquele que assessora as empresas, analisando cenários, desenvolvendo planejamentos estratégicos e indicando os melhores caminhos aos clientes. Esse profissional também precisa conhecer e dominar as novas tecnologias e, com toda a certeza, estar antenado e alinhado com as novas pautas municipais, nacionais e internacionais, como a sustentabilidade.
Pela sua experiência, quais qualidades são indispensáveis para um contador hoje e no futuro?
Em qualquer época, a ética é uma qualidade fundamental para todos os profissionais, independentemente da área. Os contadores também precisam ser focados em resultados, ter visão analítica, capacidade de adaptação e uma boa comunicação. Nesta profissão, ainda é essencial ter motivação e compromisso para estudar durante toda a carreira. Afinal, o mercado e a economia transformam-se constantemente, sendo necessário buscar atualização constante. Por fim, o contador precisa estar atento às principais pautas socioeconômicas e ambientais, sendo um cidadão com senso de coletividade; ponto expressivo não apenas no futuro, mas atualmente também.
Baseado em sua experiência profissional, em quais áreas ou segmentos o bacharel pode atuar?
O contador pode atuar em diversas áreas. Algumas das principais são: auditoria contábil, perícia contábil, consultoria, contabilidade pública, controladoria, contabilidade fiscal e societária, análise contábil, coaching de custos, docência em universidades, pesquisa e contabilidade eleitoral.
Quais são as áreas mais concorridas atualmente?
Em primeiro lugar, acredito ser importante destacar que o mercado da contabilidade está bastante aquecido. Esse padrão vem se mantendo ao longo dos últimos anos. Por outro lado, o curso de Ciências Contábeis é também um dos mais procurados do país, havendo concorrência expressiva no mercado de trabalho. Nesse sentido, verificamos que em todas as áreas há profissionais bem preparados, atualizados e com currículos competitivos. Assim, o mais importante, sem dúvida, é buscar a sua área de interesse e se capacitar constantemente, assim como procurar manter-se alinhado com todas as inovações que surgem no mercado.
Que mensagem o senhor deixaria para os contadores?
A pandemia do novo coronavírus deixou ainda mais evidente a essencialidade do contador. Durante todo esse período, caminhamos ao lado do governo, assessorando clientes, aplicando normas e contribuindo para a recuperação econômica do Brasil. Paralelo a isso, precisamos honrar ainda mais a confiança que a sociedade tem em nosso trabalho e na nossa profissão e voltar nossos olhares para outros temas fundamentais, como a sustentabilidade, o meio ambiente, a governança e as inúmeras pautas sociais que carecem de atenção. Essa mentalidade deve chegar às empresas para as quais prestamos assessoria e também aos nossos escritórios. Afinal, após superar esse longo e triste episódio da pandemia, que queremos que seja muito em breve, precisamos manter nossos olhares direcionados para a coletividade e para as demandas que permitirão o desenvolvimento sustentável do nosso país, um grande legado que podemos deixar para as próximas gerações.
Veja outras reportagens e matérias no Mensário do Contabilista deste mês. Acesse: https://www.sindcontsp.org.br/mensario-do-contabilista/ e navegue pelas principais informações!