*Por Licio Carvalho, CTO da Delend
A iniciação de pagamento está emergindo como uma das inovações mais significativas no cenário financeiro atual do Brasil, especialmente no contexto das transações via Pix. Essa tecnologia, que permite a uma empresa ou instituição financeira regulada iniciar uma transação de pagamento em nome do cliente em outra instituição, está transformando o modo como negócios e consumidores gerenciam suas finanças diárias.
Para contextualizar, a iniciação de pagamento é um serviço prestado por empresas conhecidas como Iniciador de Transações de Pagamento (ITP) reguladas pelo Banco Central. Essencialmente, essas instituições têm a capacidade de iniciar um pagamento em nome de seus clientes, utilizando dados bancários previamente autorizados por meio de Open Finance. No Brasil, esse serviço tem sido particularmente aplicado ao Pix, o sistema de pagamentos instantâneos que já se consolidou como uma ferramenta essencial na rotina financeira dos brasileiros.
Imagine uma situação prática: uma empresa precisa cobrar um cliente que possui conta no Bradesco, mas deseja que o pagamento seja recebido em sua conta no Nubank. Em vez de solicitar ao cliente que copie e cole os dados necessários para realizar a transação manualmente, ela pode usar um serviço de iniciação de pagamento. A ITP responsável, neste caso, gera um link que contém todas as informações necessárias para a transação, e o cliente precisa apenas autorizar o pagamento em seu banco. Esse processo simplifica enormemente a jornada de pagamento, eliminando erros manuais e otimizando a experiência tanto para quem paga quanto para quem recebe.
Especialmente para as pequenas e médias empresas (PMEs), a iniciação de pagamento traz uma série de benefícios tangíveis, tais como a automação e a simplificação dos processos financeiros. Empresas que gerenciam múltiplas contas e precisam realizar diversos pagamentos podem delegar essas tarefas a uma ITP, que, além de iniciar as transações, também ajuda na conciliação e gestão financeira, sem que aquelas precisem se transformar em uma instituição financeira por si só.
Jornada sem redirecionamento
O modelo de iniciação de pagamento é particularmente atrativo para negócios que não possuem grandes sistemas de ERP (Enterprise Resource Planning) para controlar suas finanças. Através deste serviço, eles conseguem automatizar processos diários como pagamentos e recebimentos de maneira simples e eficiente, economizando tempo e recursos.
Além disso, a jornada sem redirecionamento promete simplificar ainda mais o processo, de tal forma que até mesmo o Google abraçou a proposta e criou o primeiro produto do tipo para sua Wallet em parceria com o C6. Nessa modalidade, após a primeira autorização do pagamento, a ITP pode continuar realizando transações futuras sem que o cliente precise acessar seu banco novamente, ou seja, o cliente pode gerenciar diferentes contas de diferentes bancos em apenas uma carteira digital, tal qual ocorre em ambientes típicos de Web3, como o MetaMask. Isso é especialmente útil para organizações que trabalham com sistema de recorrência, como assinaturas ou cobranças periódicas.
Embora o foco principal das ITPs seja atender empresas, as vantagens para pessoas físicas também são consideráveis. A iniciação de pagamento facilita a experiência do usuário em diversas situações cotidianas, como pagar em sites de e-commerce, automatizar contas ou até mesmo rachar despesas com amigos.
Por exemplo, ao fazer uma compra online, o consumidor pode optar por pagar via Pix utilizando um link de iniciação de pagamento. Isso elimina a necessidade de copiar e colar códigos de transação, proporcionando uma experiência de compra mais fluida e segura.
A jornada de pagamento em lote é outra inovação que está sendo introduzida no mercado. Empresas que precisam realizar um grande número de transações, como o pagamento de fornecedores ou a distribuição de salários, podem se beneficiar enormemente dessa funcionalidade. Em vez de realizar cada pagamento individualmente, é possível automatizar o processo, realizando múltiplos pagamentos simultaneamente com apenas alguns cliques. Isso não só economiza tempo, como também reduz a possibilidade de erros manuais, aumentando a eficiência operacional.
O futuro da iniciação de pagamento
O Banco Central do Brasil já aprovou a implementação dessas novas funcionalidades, que devem estar disponíveis para os usuários beta das instituições a partir de 14 de novembro de 2024 e liberado para todos em 28 de fevereiro de 2025. A expectativa é que a iniciação de pagamento se torne uma ferramenta cada vez mais comum no dia a dia dos brasileiros, tanto para pessoas físicas quanto para jurídicas.
Com a regulamentação e o suporte do Banco Central, a iniciação de pagamento promete mudar a forma como os brasileiros lidam com suas finanças, oferecendo mais conveniência, segurança e eficiência. Para as empresas, especialmente as PMEs, essa tecnologia representa uma oportunidade de simplificar processos, reduzir custos e melhorar a experiência do cliente.
Open Finance
Todas essas inovações só são possíveis porque o Banco Central implementou o Open Finance, um sistema que permite o compartilhamento seguro de dados financeiros de indivíduos e empresas entre diferentes instituições financeiras. Esses dados incluem informações detalhadas sobre contas bancárias, investimentos, cartões de crédito, financiamentos, entre outros produtos financeiros. A grande inovação do Open Finance está na possibilidade de compartilhar esses dados de forma segura e padronizada, permitindo que outras instituições financeiras e fintechs possam acessar e utilizar essas informações para oferecer serviços mais personalizados e eficientes.
No Brasil, o Open Finance se diferencia por ser regulado e padronizado de maneira técnica. Isso significa que todas as instituições financeiras devem seguir um conjunto de normas técnicas para o compartilhamento de dados, o que facilita a integração e a criação de novos serviços financeiros. Diferentemente da Europa, onde cada banco pode ter sua própria API e sistema, no Brasil, todos seguem o mesmo padrão, permitindo um desenvolvimento mais rápido e eficiente de soluções baseadas em Open Finance.
Algumas vantagens do Open Finance
O impacto do Open Finance no sistema financeiro brasileiro
A implementação do Open Finance no Brasil tem sido rápida e eficiente, em grande parte devido à padronização técnica e ao compromisso das instituições financeiras com a inovação. Esse avanço tem permitido o surgimento de novas fintechs e soluções financeiras que tornam o mercado mais dinâmico e acessível para todos.
Além disso, o Open Finance está democratizando o acesso ao crédito e a outros produtos financeiros, especialmente para aqueles que antes tinham dificuldades em conseguir condições favoráveis devido à falta de histórico ou à complexidade do processo. Agora, com a possibilidade de compartilhar dados detalhados, mais pessoas podem ter acesso a produtos financeiros que antes estavam fora de alcance.
O Open Finance ainda está em seus primeiros anos no Brasil, mas as perspectivas são promissoras. Com a contínua evolução das tecnologias e o aumento da adesão por parte dos consumidores e instituições financeiras, espera-se que novos produtos e serviços surjam no mercado, cada vez mais alinhados às necessidades e preferências da população.
Entre as tendências futuras, podemos destacar a criação de plataformas que oferecem uma visão 360 graus das finanças pessoais, permitindo uma gestão ainda mais proativa e personalizada. Além disso, a interoperabilidade entre diferentes setores, como seguros e investimentos, pode criar um ecossistema financeiro ainda mais integrado e eficiente.
A agenda BC#, a grande agenda de inovação do Banco Central do Brasil, que atualmente já implementou o Pix, o Open Finance e ainda deve lançar o Drex, está transformando a vida financeira dos brasileiros, oferecendo novas formas de gestão, acesso a produtos financeiros, maior transparência e democratização do sistema financeiro, antes dominado apenas pelos grandes bancos. Com essas inovações, o Brasil está na vanguarda da transformação digital da economia, proporcionando aos consumidores um controle sem precedentes sobre suas finanças. À medida que mais pessoas e empresas adotam esta agenda de inovação, que ainda está em sua infância, ela deve atingir a adolescência com a Jornada Sem Redirecionamento e a maturidade com o Drex. Assim, o mercado financeiro brasileiro se torna mais inclusivo, competitivo e dinâmico, beneficiando a todos.
*Licio Carvalho é CTO da Delend, fintech pioneira dedicada a simplificar e democratizar o acesso ao crédito para pequenas e médias empresas (PMEs) no Brasil – delend@nbpress.com.br